9 de setembro de 2012

Crítica: Intocáveis

Um dos maiores sucessos recentes do cinema europeu mescla a realidade da imigração africana no Velho Continente com o humor politicamente incorreto.




A película francesa dos diretores Olivier Nakache e Éric Toledano acerta em cheio ao abordar (e dosar) de forma extremamente divertida uma tragédia pessoal. Philippe, interpretado com maestria por François Cluzet, é um milionário com problemas familiares que ficou tetraplégico após sofrer um acidente enquanto voava de asa delta. Ao longo do filme, é revelado que a mulher de Philippe, sua grande paixão, acabara de morrer e o milionário queria dividir na pele o sofrimento da doença terminal da esposa. Eles têm uma filha adotada, que convive com problemas de personalidade na adolescência e de relacionamento com seu namorado. Ao que tudo indica, o filme será uma grande epopeia trágica.

Mas tudo muda com a contratação do nada provável senegalense Driss (Omar Sy), que acaba de cumprir uma pena de seis meses na cadeia. Ele começa a cuidar do tetraplégico Philippe, sem nenhuma piedade com a condição do milionário. A grande sacada da película está aqui: contrapor dois homens com personalidades distintas, mas sem tratar das limitações físicas como uma deficiência. No fundo, eles são iguais, de origens completamente diferentes. Philippe consegue, inclusive, despertar em Driss algum interesse pela música erudita e pela pintura. Este chega a pintar um quadro de qualidade razoável e ser negociado por Philippe de forma muito irônica por 11 milhões de euros.

Boa parte do filme explora com bom humor os passos iniciais de Driss para cuidar de Philippe. Sem nenhum talento e vocação para serviços humanos, o senegalense debocha da deficiência do milionário, que muitas vezes ri da falta de escrúpulos do empregado. Questionado por uma de suas funcionárias do motivo por ter escolhido o ex-detento, ele se resume a dizer pela falta de compaixão. E é disto que ele precisa na vida, para se sentir normal.

A película francesa reserva momentos de pura gargalhada com um tom romântico – como na troca de correspondência de Philippe com uma mulher desconhecida, Eleonora. O final reserva uma boa surpresa preparada por Driss para seu chefe.

Intocáveis valeria somente pela atuação de François Cluzet, que interpreta um tetraplégico em busca de alegrias na vida que lhe resta, e pelas graças naturais de Omar Sy – e pelos problemas familiares enfrentados pelo imigrante vivendo na França.

Ah, o filme é baseado numa história real. Inclusive nos créditos é mostrada uma cena do milionário com seu assistente nos dias atuais. Filme obrigatório para amantes do cinema europeu ou interessados por diversão com inteligência.

Cotação: * * * * *

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