A película francesa dos diretores Olivier Nakache e
Éric Toledano acerta em cheio ao abordar (e dosar) de forma extremamente
divertida uma tragédia pessoal. Philippe, interpretado com maestria por
François Cluzet, é um milionário com problemas familiares que ficou
tetraplégico após sofrer um acidente enquanto voava de asa delta. Ao longo do
filme, é revelado que a mulher de Philippe, sua grande paixão, acabara de
morrer e o milionário queria dividir na pele o sofrimento da doença terminal da
esposa. Eles têm uma filha adotada, que convive com problemas de personalidade
na adolescência e de relacionamento com seu namorado. Ao que tudo indica, o
filme será uma grande epopeia trágica.
Mas tudo muda com a contratação do nada provável
senegalense Driss (Omar Sy), que acaba de cumprir uma pena de seis meses na
cadeia. Ele começa a cuidar do tetraplégico Philippe, sem nenhuma piedade com a
condição do milionário. A grande sacada da película está aqui: contrapor dois
homens com personalidades distintas, mas sem tratar das limitações físicas como
uma deficiência. No fundo, eles são iguais, de origens completamente
diferentes. Philippe consegue, inclusive, despertar em Driss algum interesse
pela música erudita e pela pintura. Este chega a pintar um quadro de qualidade
razoável e ser negociado por Philippe de forma muito irônica por 11 milhões de
euros.
Boa parte do filme explora com bom humor os passos
iniciais de Driss para cuidar de Philippe. Sem nenhum talento e vocação para
serviços humanos, o senegalense debocha da deficiência do milionário, que
muitas vezes ri da falta de escrúpulos do empregado. Questionado por uma de
suas funcionárias do motivo por ter escolhido o ex-detento, ele se resume a
dizer pela falta de compaixão. E é disto que ele precisa na vida, para se
sentir normal.
A película francesa reserva momentos de pura
gargalhada com um tom romântico – como na troca de correspondência de Philippe
com uma mulher desconhecida, Eleonora. O final reserva uma boa surpresa
preparada por Driss para seu chefe.
Intocáveis valeria somente pela atuação de François Cluzet,
que interpreta um tetraplégico em busca de alegrias na vida que lhe resta, e pelas
graças naturais de Omar Sy – e pelos problemas familiares enfrentados pelo
imigrante vivendo na França.
Ah, o filme é baseado numa história real. Inclusive
nos créditos é mostrada uma cena do milionário com seu assistente nos dias
atuais. Filme obrigatório para amantes do cinema europeu ou interessados por
diversão com inteligência.
Cotação:
* * * * *
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