Antes de mais nada, para plateias fora dos EUA, é bom contextualizar o momento escolhido por Spielberg para retratar a figura do décimo-sexto presidente norte-americano, Abraham Lincoln, interpretado com perfeição por Daniel Day-Lewis.
Estamos em 1865, o quarto e último ano da Guerra de Secessão,
que opôs o Norte dos EUA, liderados pela União, contra o Sul, comandados pelos
Confederados, que eram os Estados separatistas com economia agrária, que
dependiam dos escravos negros que seriam libertados caso a 13ª emenda fosse
aprovada pelos congressistas.
Nesta guerra civil que deixou centenas de milhares de mortos
do mesmo país, Lincoln aparece como a figura que deve, em seu segundo mandato,
colocar um basta no massacre. E para tal precisa aprovar uma lei que acaba com
a escravidão, e consequentemente com a guerra.
Eis que surge a figura emblemática do presidente
norte-americano Abraham Lincoln, com sua voz calma, baixa, com o físico já
deteriorado após os quatro anos de guerra e intensa pressão política. A
interpretação de Daniel Day-Lewis é magistral, conduzindo o filme e prendendo a
atenção do espectador, até aqueles sonolentos de carteirinha. Sua interpretação deve lhe render o Oscar de melhor ator.
Pertencente ao partido Republicano, Lincoln deve conduzir
uma intensa negociação com os Democratas para colocar um ponto final na guerra
aprovando a 13ª emenda, que prevê a abolição da escravatura. Ele conduz seus
aliados nas negociações e se coloca em campo para travar as batalhas para ver
seu projeto aprovado na câmara no final de janeiro de 1865, depois de acaloradas discussões e subornos.
Quase 150 anos depois, o atual presidente negro dos EUA
Barack Obama precisa travar diariamente as mesmas disputas com o partido
Republicano para aprovar as leis dentro da mesma Câmara de Lincoln que
beneficiariam todo o país, mas que encontram forte resistência.
O filme de Spielberg tem muito a ensinar como se faz – e continua
fazenda – política dentro e fora dos EUA. A figura de Lincoln não se torna,
forçadamente, um mito a ser venerado. Mas acaba sendo transformado num homem de carne e osso, que
enfrentou todos os Estados para pregar seus ideais, unir o país e lutar pela paz e igualdade
racial.
Cotação: * * * *
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